quarta-feira, 23 de julho de 2014

Minha participação no Jornal EPTV | Ribeirão Preto


Quem convive comigo sabe o quanto a exposição é algo que eu não sei (ou pelo menos ainda) lidar. Gosto dos poucos e bons amigos, da intimidade preservada e, embora eu seja uma pessoa bastante falante (daquelas que conversa na fila com qualquer pessoa), para algumas coisas eu ainda sou tímida.

E se eu ainda tento me preservar ou sou tímida para algumas situações, por que estou aqui escrevendo e falando sobre essa experiência? Porque conversando com muitas pessoas e comigo mesma, entendi que essa exposição faz sentido porque com ela podemos discutir várias coisas. A primeira e mais importante delas: como ser um celíaco ativo!

Oras, mas que raios significa ser um celíaco ativo? Significa que ao invés de nos queixarmos do governo, dos preços dos produtos, dos impostos, da contaminação cruzada, da falta de conhecimento da população, cada um de nós seremos ativos para o reconhecimento de nossa doença. 
Mas como? Na realidade não importa muito. Não necessariamente as pessoas precisem criar blogs, páginas no facebook ou sites, embora isso ajude demais, mas podemos ser ativos na nossa comunidade, no nosso bairro, na nossa família, entre os nossos amigos. Se cada um de nós fizermos isso, teremos uma sociedade muito melhor. E aí, as chances de ouvirmos que alergias/intolerâncias são frescuras, que estamos fazendo dieta da moda ou que tudo não passa de um exagero ou obsessão, certamente diminuirão. 

Tudo o que cada um de nós deve fazer é divulgar, buscar conhecimento, compartilhar, informar e participar dessa reviravolta que está acontecendo. Tantas pessoas se descobrindo intolerantes ou alérgicas a algum alimento, não é? E não é por acaso! Há toda uma explicação para o momento que estamos vivendo: passamos a consumir industrializados demasiadamente, nossos alimentos tidos como naturais e saudáveis estão sendo modificados geneticamente há anos para produzir mais e resistir a pragas e trabalhamos mais do que nunca, sobrando menos tempo para nos alimentarmos, de fato, de maneira mais saudável e nutritiva. As consequências estão aí para quem quiser ver. Está em mim, como celíaca e está em você, que está lendo esse texto. Quem, atualmente, não conhece uma só pessoa alérgica ou intolerante a algum alimento, levante a mão! 

No meu círculo social, semanalmente, recebo mensagens de amigos e amigas, próximos ou não, desconfiados de alguma intolerância/alergia. Além do meu círculo social, recebo emails e mensagens, por meio do blog, de desconhecidos também desconfiados e alguns bastante desesperados pela situação em que se encontram. Eis que então com tantas alergias e intolerâncias, diante dos obstáculos que um diagnóstico pode trazer, sentamos, choramos e culpamos alguém: o pai ou a mãe que não nos ensinaram a ter uma alimentação saudável, os médicos que não nos diagnosticaram antes, os amigos que nos chamavam para comer pizza e tomar cerveja toda sexta-feira, o governo que não reduz os impostos de alimentos próprios para nós, as lojas que vendem os produtos com preços abusivos, os fabricantes que fornecem alimentos contaminados com glúten, o (a) namorado (a) que toma cerveja e não compreende que não podemos beijar na boca. E aí, rasgamos o verbo, dizendo: "Está vendo! Por isso estou no fundo do poço. A realidade não muda! Será sempre assim e acho que nunca mudará."

Ok! Que nunca mude, se o cara lá de cima achar que não deve mudar, que ninguém compreenda as nossas dificuldades ou respeite a existência (mais do que real) da contaminação cruzada e os preços continuem a subir, eu pergunto: "O que você tem feito para mudar essa realidade?; O que eu tenho feito para mudar essa situação?" E por segundos, talvez minutos, emudecemos porque, bem no fundinho do coração, sabemos que fazer alguma coisa é muito mais difícil do que reclamar e esperar que alguém faça, não é? 
Gosto muito de uma foto amplamente divulgada pela Fenacelbra (Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil), que fala exatamente como sermos um celíaco PAR (paciente ativo e responsável)



Não é bacana? Também sei que fácil não é, mas é possível. Quando juntamos as forças, conquistamos coisas que jamais poderíamos imaginar. Acreditem! 

Bom, toda esse construção do pensamento para dizer que tudo isso (esse texto, essa foto e principalmente essa reportagem) tem um único objetivo: INCENTIVAR cada um de vocês a lutarem pelo o que desejam! 
Querem compreensão? Reconhecimento da sociedade com relação a doença celíaca? Querem que os fabricantes saibam o que é contaminação cruzada? Vamos ter que trabalhar! E muito...mas, juntos! E quando trabalhamos juntos, com um único objetivo, conquistamos para nós e para os outros. E vejam que bacana: além de trabalharmos, ganharmos conhecimento, conhecermos pessoas novas e bacanas, ainda podemos ter atitudes caridosas para com o próximo. Por isso, mesmo com muita timidez e vergonha, estou dividindo com vocês. Estou passando por cima do meu orgulho (todos nós somos orgulhosos quando ficamos receosos sobre o que o outro vai pensar de nós e de nossas atitudes), vergonha, timidez e muitas outras coisas para que juntos possamos refletir, pensar e agir.

Essa reportagem foi um presente para mim e espero que para a minha cidade e região. Acredito que não só aqui em Ribeirão Preto mas em vários lugares, está difícil viver como celíaco, por todos os motivos já mencionados: a população não sabe do que se trata a doença celíaca, as padarias cheeeeias de glúten saem fabricando produtos "sem glúten", os profissionais de saúde ainda patinam no assunto (e nós sabemos disso, porque quando somos pacientes ativos e responsáveis, estudamos nosso diagnóstico e isso nos dá base para questionarmos orientações recebidas), a família pouco se importa com contaminação cruzada, os amigos tiram sarro e lamentavelmente, muitas pessoas ainda se encontram naquela fase de peregrinação em consultórios médicos em busca de um alívio para suas dores. Vocês já pararam para pensar que agora, nesse instante, milhares de pessoas estão em pronto socorros ou consultórios médicos, com todos os sintomas da doença celíaca, e do outro lado da mesa, alguém de branco está dizendo que é virose, infecção intestinal, coisa da cabeça, ansiedade, nervosismo? Poxa, você não acha que estou exagerando porque é bem provável que você tenha passado por isso, como eu passei. 

Por isso, temos o DEVER de falarmos sobre o nosso diagnóstico, dos benefícios de uma alimentação sem glúten para todos e da necessidade dela para os celíacos, dos perigos da contaminação cruzada, dos sintomas e tudo o que pudermos falar. Fale, comente, divulgue! Para sua família, para seu vizinho, para seus amigos, namorado (a), funcionário, professor. Bata no peito e diga: "Eu sou celíaco(a) e sei do que estou falando porque ninguém viveu ou vive a minha dor!" Certamente, foi esse o caminho que muitas pessoas percorreram para que o Diabetes, por exemplo, fosse respeitado como é hoje. 

Transforme a tua dor, física ou emocional, em alívio para outras pessoas e busque ajuda quando estiver insuportável. Ninguém é obrigado a dar conta de tudo o tempo todo. Temos nossas fragilidades. Respeite-as. Respire. Conte até dez. Levante-se denovo e vá! Com medo? Nervosismo? Receio? Raiva? Mas vá, porque esse caminho só pode ser percorrido por você e mais ninguém. Nas margens desse caminho estarão todas as pessoas que amam e acreditam em você. Estarei lá, mesmo sem te conhecer, pode ter certeza!



Sobre a reportagem:
Essa reportagem aconteceu porque eu dediquei alguns minutos do meu tempo para sugeri-la para o jornal local da minha cidade. Totalmente descrente da leitura por parte da equipe jornalística, salvei o email enviado em um arquivo word porque tinha certeza de que seria necessário enviar diversas vezes. E a resposta veio por meio de um telefonema, falando do interesse em falar do assunto, em pouco tempo. 
Foi uma matéria de poucos minutos, na qual eu falei sobre a questão da contaminação cruzada e da importância de uma alimentação baseada em verduras, legumes e frutas. Na mesa que preparei para a filmagem, havia tudo isso. Infelizmente, na edição da gravação não foram mostradas minha fala sobre contaminação cruzada e a base da minha alimentação em alimentos naturalmente sem glúten. Mas não tem problema, um passo já foi dado e eu sou muito grata por isso. Tenho certeza de que joguei as sementinhas ou deixei a pulguinha atrás da orelha de muita gente, que vai passar a se observar mais. 

Aproveito para agradecer todas as pessoas que estiveram e estão as margens do meu caminho, me oferecendo apoio, alegria, incentivo e motivação. Gratidão infinita a Deus e a todas as pessoas, conhecidas ou não, de perto ou de longe. Aos meus amigos parceiros que cuidam da minha alimentação e me tiram sorrisos a cada delícia que produzem; Sabor de Saúde (São Paulo/SP), Crumble Cozinha (Ribeirão Preto/SP) e Mr. Premium (Ribeirão Preto/SP).
Também, quero agradecer a Marília, da EPTV, que leu meu email, aguardou meu retorno de viagem e gentilmente, se mostrou aberta, e a equipe de filmagem que me deixou a vontade e transformou tudo em uma conversa gostosa.

Quero agradecer a uma leitora (danadinha!), a Vaulíria. Ontem, estava bastante pensativa sobre postar ou não o vídeo. Eis que entro no blog e ela já tinha postado e mandado mensagem. Só me restou dizer: "Ok! Já entendi! Não tem mais volta! Uma leitora já postou...agora, acho melhor me pronunciar!". 
E isso foi um baita incentivo para deixar orgulho, timidez e vergonha de lado. Leitores que são verdadeiros presentes que Deus coloca na minha vida! Muito obrigada, minha querida! 

Respeitosamente, gostaria de corrigir duas coisas com relação a reportagem. A primeira é que o glúten não é um produto adicionado a massas e pães, como foi mencionado pelo jornalista. Ele é uma proteína presente no trigo, aveia, cevada, malte e centeio. E a segunda é que a repórter esqueceu de mencionar que o glúten também está presente na cevada.

Após a reportagem, recebi algumas mensagens e isso alegrou meu coração. 
Após a reportagem, pessoas que nunca imaginei me assistiram e vieram perguntar do diagnóstico.
Após a reportagem, sinto que fiz minha parte e convido você a fazer a sua. 

Qual será? 

Conte comigo! 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...