terça-feira, 5 de junho de 2012

O que você deve saber resumidamente sobre a doença celíaca: contaminação cruzada


Uma notícia BASTANTE animadora é que com poucos dias de dieta, já senti uma super melhora dos meus sintomas. 

Por conta do próprio diagnóstico, certamente meu intestino estava todo enfraquecido e machucado. Por isso, também segui um tratamento medicamentoso, orientado pela minha médica, com o objetivo de ajudar a recuperar os danos causados. Vejam, não há remédio que cure a doença celíaca . Com a dieta (único tratamento existente, por enquanto) e as medicações, eu melhoraria em breve. Tive algumas recaídas depois de uns dias de tratamento, mas li que isso pode ser normal, devido ao processo de cura das lesões, que pode levar de 6 meses, 1 ano ou mais. Costumo dizer que é como um processo de desintoxicação do organismo. Não adianta, tem que ter paciência e seguir tudo bem direitinho.



Enquanto você vai aprendendo umas coisas aqui e outras ali por conta própria, as pessoas também vão ajudando com aquilo que sabem. 
Todos sabem (deveriam saber ou vão aprender agora) que no supermercado comum encontramos poucas opções para nos alimentarmos, principalmente no café da manhã e lanchinhos entre as refeições. 
A padaria do bairro? Esqueça! Além de não ter absolutamente nada para comermos, quando tiver, devemos desconfiar. 
Mas calma! Não vamos entrar em desespero. E se alguém entrar, continue lendo acompanhando o blog. Eu prometo tentar ajudá-los a serem felizes, como eu sou.

E então, voltemos a questão: quer dizer que além de minha alimentação ser restrita, tenho que ser paranóica? 
Claro que não! Eu não diria paranóica mas sim, bastante cuidadosa. Estamos falando da nossa saúde, de um diagnóstico que afeta todo o nosso organismo. Caso sejamos levianos, as consequências podem ser terríveis. 
Lembram que comentei que quando fui diagnosticada eu achava que minha médica estava maluca e visitei outros médicos? Um deles é um médico lá da Unifesp, chefe do ambulatório que cuida de pacientes com doença celíaca. Uma das perguntas que ele me fez foi: você anda comendo em restaurante?
Eu, pobre mortal, morando sozinha em São Paulo e tendo uma hora de almoço, respondi que sim. Porém, enfatizei que eu tinha um super cuidado em perguntar TUDO para o pessoal do restaurante; com certeza eu não estava consumindo nada com glúten. 
Bem, isso era o que eu achava.

Ele me explicou que restaurantes podem oferecer para nós refeições com resquícios de glúten. Em resumo, podemos comer glúten sem saber. Embora muitos acreditem que isso é frescura, entendam e façam com que elas entendam também...NÃO É!


A Codex Alimentarius (uma comissão criada em 1963, pela Organização Mundial da Saúde para desenvolver normas e diretrizes alimentares) determinou, em 2008, que todos os produtos com menos de 20 ppm (partes por milhão - ou seja, 20 miligramas) de glúten podem conter a inscrição "não contém glúten". O Brasil segue esta comissão mas infelizmente, a nossa realidade é bem diferente daquela na qual empresas respeitam as leis e possuem conhecimento sobre os prejuízos para a nossa saúde. 


Todos os produtos que lemos "contém glúten" podem necessariamente não conter, porém pode haver risco de contaminação cruzada, em alguma parte do processo industrial. Por exemplo, o achocolatado de nome Nescau não contém glúten na fórmula, mas como ele é embalado em máquinas em que produtos com glúten também são, a Nestlé precisa indicar que contém. 


Acreditem! Há pessoas que passam mal ingerindo alimentos com menos de 15 ppm de glúten. Viram só?! Está bem longe de ser frescura. Em outros países, a lei garante a inscrição "não contém glúten" para os produtos com menos de 10 ppm. Ou seja, são bem mais seguros.  

E como pode acontecer a contaminação cruzada? De infinitas formas. A Acelbra-RJ recomenda que se tenha os seguintes cuidados:


- Óleo usado para fritar empanados com farinha de rosca contendo glúten: geralmente é isso que acontece em barzinhos e restaurantes. Onde são fritos empanados, são fritos alimentos que originalmente não contém glúten. Então, se no cardápio você observou que o restaurante serve bolinhos e salgadinhos, jamais peça batata frita.

(Eu já tive a infelicidade de comer duas - vejam, apenas duas  - batatinhas do Mc Donald´s. O arrependimento foi enorme. Certamente não estavam livres de contaminação cruzada);
- Não asse ao mesmo tempo, no forno, alimentos com e sem glúten e, sempre que possível, cubra o alimento sem glúten com alumínio;
- Não compartilhe torradeiras, margarina, manteiga, geléias e requeijão. Pequenas migalhas de pão com glúten contaminam os alimentos;
- Lave bem os potes plásticos, talheres e outros utensílios. Passar apenas um pano não elimina pequenas partículas de glúten;
- O pó de café pode conter cevada. Tome cuidado ao tomá-lo fora de casa;
- Balas e caramelos podem ser envoltos em farinha de trigo para não grudarem na embalagem. Esse tipo de informação não consta no rótulo;
- Pessoas muito sensíveis ao glúten não devem permanecer em ambientes onde são manipuladas farinhas proibidas, pois as partículas no ar podem provocar lesões na pele (pessoas com diagnóstico de dermatite herpetiforme sofrem com essas partículas e tudo que tenha contato com a pele, como cosméticos, por exemplo;
- Não coma pão de queijo ou qualquer outro produto fabricado em padarias, pois são ambientes altamente contaminados com farinha de trigo;
- Ao comer em um restaurante, dê preferência para pratos sem molhos, como saladas, grelhados e arroz. Porém, certifique-se com o chef de cozinha, gerente ou garçom se a carne servida não é temperada com temperos prontos (como sazón e alguns caldos) ou ainda levam amaciantes. Também, vale a pena se certificar de que seu grelhado não será preparado em chapas e panelas onde são preparados alimentos com glúten, lembre-se sempre de ser cuidadoso com a sua saúde;
- Quando for comer comida japonesa, esteja atento ao molho shoyo. Algumas marcas contém glúten. Não coma kani, pois pode conter glúten e também certifique-se do uso compartilhado da faca que corta os empanados, como o hot roll, por exemplo;
- Leve na bolsa ou bolso algum alimento de emergência (barra de cereal, fruta, suco em caixinha). Assim você evitará passar fome fora de casa;
- Ao frequentar festas de pessoas pouco íntimas ou cerimoniosas, faça uma refeição antes de sair de casa; se não houver problemas, marmite sem vergonha disso; denovo: é a sua saúde;
- No caso das crianças celíacas, converse antes com quem vai dar a festa para saber sobre o cardápio. Caso seja possível, dê sugestões como pipoca e gelatina. Se não, alimente a criança antes da festa. Ou ainda, uma dica minha é: prepare uma "lancheirinha" com salgadinhos e docinhos sem glúten;
- Cuidado com o brigadeiro! Leite condensado não contém glúten, porém o chocolate em pó usado pode conter. Outros docinhos podem levar farinha de trigo para engrossar. Fique atento ao granulado também;
- Luvas cirúrgicas, usadas por médicos e dentistas, podem conter farinha de trigo;
- Se surgirem dúvidas com relação a determinado alimento, ligue para o SAC do mesmo;
- A hóstia, utilizada na igreja católica, contém glúten, pois é feita de farinha de trigo. O celíaco não pode comungar com hóstia. Desta forma, peça a seu médico ou nutricionista para elaborar um laudo contendo a informação e solicitando a comunhão através da ingestão do vinho; algumas pessoas conseguem encontrar hóstias sem glúten, informe-se antes de consumir
- Medicamentos sob a forma de comprimidos pode conter glúten e isso deve vir sinalizado na embalagem; na dúvida entre em contato com o fabricante;
- Não ofereça ao celíaco "somente a carne" do hamburger, "somente o queijo" da pizza ou "só os legumes e carnes" de uma sopa feita com macarrão que contém glúten - a contaminação com o glúten já ocorreu;
- Bolos feitos em casa sem glúten: as formas também devem ser untadas e polvilhadas com farinha sem glúten (maisena, fubá, ou creme de arroz);
- Nos restaurantes, sempre questione quais os ingredientes foram adicionados ao prato. Ninguém melhor do que você para saber se ele contém ou não glúten; 
- Ração de cães, gatos e peixes podem conter glúten. Cães e gatos costumam lamber seus pelos e podem contaminar toda a casa com glúten - muitas vezes as crianças esquecem de lavar as mãos depois de brincarem com seus animais ou depois de alimentá-los. Troque por marcas que não contém glúten, evitando maiores problemas;
- Preste atenção nos produtos de higiene e de beleza - muitos contem proteínas de trigo, aveia e centeio. Leia o rótulo de shampoos, sabonetes, condicionadores, cremes hidratantes e também de produtos de maquiagem, principalmente os batons e brilhos labiais. Ainda não é consenso entre os profissionais de saúde se o celíaco deve evitar esses produtos, mas como todos eles podem entrar em contato com nossas mucosas (olhos, boca, anus, aparelho genital), a maioria das associações de celíacos pelo mundo recomenda que não se use. Aqui está disponível uma lista dos principais nomes de ingredientes que contém glúten e são encontrados nos produtos de higiene e beleza;
- Esteja atenta a pasta de dente/creme dental utilizada;
- Cuidado com beijos na boca: se a outra pessoa ingeriu glúten e ainda não pôde escovar os dentes, evite o beijo. É mais seguro e evita contaminação, pois os resíduos de glúten se depositam entre os dentes, língua e bochechas. 


Isso pode parecer frescura mas não é. O grau de sensibilidade pode variar de celíaco para celíaco. Portanto, as orientações são gerais e devem ser seguidas. Todo o cuidado é pouco e necessário!
Não é porque o celíaco não tem sintomas que ele pode não estar se contaminando. Na dúvida, não coma ou marmite, tá?!

Tenha cuidado e seja feliz! Isso é totalmente possível!





Fonte: Raquel Benati (site da Acelbra -RJ); Acelbra-RJ.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...