segunda-feira, 16 de abril de 2012

A polêmica dieta sem glúten

Viver sem glúten é muito mais do que retirá-lo da dieta. Certamente, uma vida sem glúten afeta não só a nossa alimentação como todos os aspectos, inclusive o social! (com 20 dias de diagnóstico fui a um casamento! Claro, voltei mega depressiva. Mas isso eu vou contar em um capítulo a parte!)

Viver sem glúten demanda muita disciplina. Como eu já tinha uma questão com a gastrite, eu já era muito disciplinada. Então, isso me ajudou a ter mais autocontrole. Vontade dá mesmo (até hoje)...mas quando eu tenho uma, substituo, no mesmo minuto, por uma cena: a do dia seguinte! (No meu caso, sou tão reativa, que assim que acabo de comer, apresento os sintomas). Pronto, a vontade passa rapidinho.

A partir do momento em que você é diagnosticado com alguma intolerância, pode se sentir um peixe fora d´água, afinal, onde quer que estejamos parecemos ser os únicos. Não se desespere! Você não está sozinho. Sua necessidade é a de milhares de outras pessoas também. E vamos combinar, comer tem que ser algo prazeroso e não que te cause episódios de quaisquer sintomas, não é mesmo? A não ser o de satisfação e felicidade.

Ok! Eu mudo meus hábitos alimentares e o que ganho com isso?
Uma depressão por ver todo mundo comendo e não comer? Ou melhor, passo fome? Inicialmente, eu senti tudo isso...tristeza por não saber o que comer, passei fome em alguns momentos (principalmente quando saía de casa), vergonha por ter que recusar o que as pessoas me ofereciam, vontade, angústia...uma lista gigantesca de sentimentos ruins que dificultavam minha situação. 
Porém, não há dúvidas de que deixar de consumir glúten, para os celíacos, é benéfico para todo o organismo.

A primeira delas é que quando deixamos de consumir o glúten, mandamos embora todos os sintomas citados anteriormente (para quem quiser rever, clique aqui) e consequentemente, começamos a fortalecer nosso intestino. 
Então, é mais do que certo de que os benefícios existem. 

E se eu não for celíaco? Não possuir nenhum tipo de intolerância e ainda sim escolher não consumir glúten?
Conheço muitas pessoas que por orientação nutricional ou médica, simplesmente deixaram de consumir o glúten. E a pergunta é: o porquê deste tipo de orientação? Por que muitos famosos estão aderindo a dietas sem glúten?



Curiosidade:
Vocês sabiam que o seres humanos não digerem totalmente o trigo? Acreditem se quiser!
Nós possuímos somente um estômago e ele não é suficiente para para digerir o trigo. As vacas possuem quatro câmaras, dentro do estômago, e quando ingerem o trigo, ele vai passando de uma câmara para outra, até ser totalmente digerido. 


Ao falarmos deste tipo de orientação, entramos em um assunto que estudei este final de semana: a questão ética frente ao Conselho Regional de Nutrição (CRN). Devido a algumas orientações nutricionais descabidas ou desenfreadas, com relação a retirada do glúten da dieta, o CRN decidiu, em um encontro científico, que isto "só deve acontecer mediante diagnóstico clínico confirmado de doença celíaca, de dermatite herpetiforme, de alergia ao glúten, ou quando, eliminada a hipótese de doença celíaca, haja diagnóstico clínico confirmado de sensibilidade ao glúten (também denominada como intolerância ao glúten–não celíaca)."

Ou seja, nada de retirar o glúten se você não tiver um diagnóstico médico. Caso algum profissional infrinja esta parte do código de ética nutricional, sofrerá as penas cabíveis e determinadas. 
Foi exatamente por este motivo que a minha querida amiga nutricionista Sarah Passos não escreverá aqui sobre os benefícios de uma dieta sem glúten, pois, se o fizesse, poderia sofrer consequências muito ruins para a atuação dela. Há nutricionistas a favor e contra não só a medida, mas também a questão da retirada do glúten.

Eu concordo que muitos profissionais oferecem a seus pacientes orientações descabidas. Sendo mais clara, muitos profissionais não se encontram aptos a oferecerem as orientações que oferecem. Pois bem, certamente muitos nutricionistas saíram por aí orientando uma dieta sem glúten sem ao menos conhecer se o paciente que estava ali, na sua frente, possuía recursos (sejam financeiros, emocionais ou de qualquer outra ordem) para segui-la. Lidar com pessoas é isso, levar em consideração a subjetividade delas...cada ser é único e deve ser visto em sua singularidade (papo de psicóloga mas totalmente verdadeiro e cabível quando lidamos com pessoas). 
Hoje, sabe-se que muitas (mas muitas mesmo!) pessoas possuem alguma intolerância ao glúten, transformando-as em sensíveis a ele ou celíacas (quadro grave de intolerância alimentar a proteína). Há pesquisas que apontam que 20% da população tem sensibilidade ao glúten. Com isso, houve o aumento de produção de alimentos oferecidos nas prateleiras comerciais. Empresários, a fim de atingir este tipo de mercado, acabam oferecendo opções deste tipo de alimento, porém não recomendados para os celíacos. Como assim?
É dito "sem glúten", porém não é bem por aí: podem haver resquícios da proteína. Para um celíaco isso pode ser bastante prejudicial, visto que podemos passar mal com quantidades pequenininhas da proteína. De forma resumida, o alimento é para aqueles que suportarão estes resquícios e não para os celíacos. 

Sabe quando temos certeza disso? Quando você pergunta para a pessoa: "você produz alimentos sem glúten?" e a pessoa responde: "claro!". Se você é celíaco, vai insistir: "mas você o prepara em algum lugar especial?" e ela logo rebate, "não!". Pronto, este é um exemplo clássico de que a pessoa não garante 100% de segurança de que um celíaco pode consumir aquele alimento (falarei, em uma outra ocasião, sobre a contaminação cruzada).

Estão dizendo por aí que o glúten, quando retirado da alimentação, traz benefícios a saúde, sendo o mais citado o emagrecimento. Artistas famosas como Juliana Paes e Luciana Gimenez já aderiram a dieta e relatam ter perdido de 5 a 10 kg com ela. Mas, nem tudo o que reluz é ouro e é preciso pensar sobre o assunto. De que adianta tirar o glúten da dieta e continuar comendo bolos, doces e comidas, desenfreadamente, só porque são na versão sem glúten? Dieta exige orientação profissional e muita disciplina.

Por um lado, eu hei de concordar com alguns profissionais que esta medida do CRN foi uma imposição quando na verdade, quem deve escolher (no caso dos não celíacos) se vai ou não seguir uma dieta sem glúten é o próprio paciente, juntamente com quem está orientando-o. Vejam, isso para os não celíacos e não sensíveis ao glúten. Cheguei a ler, em um blog, relatos de uma nutricionista com a justificativa de que "uma dieta isenta de glúten é muito difícil de ser seguida. É cara e o paciente sofre ao sair com os amigos e não poder comer as mesmas coisas que eles, mesmo não tendo nenhuma doença que o impeça disso."

Realmente é, como afirmei logo que abri esse post. Mas...

Cadê a democracia? Cadê a subjetividade? Cadê o direito de escolha, de cada pessoa? Impor que determinada pessoa não possa retirar o glúten de sua dieta é atestar que ela não é apta a escolher e decidir sobre sua vida, quando na verdade ela pode ser sim. 

Mais do que isso, essa medida do CRN, no meu ponto de vista, atesta que um nutricionista não sabe o que está fazendo. Claro, muitos não sabem mesmo mas, e os que sabem? O CRN não está preparando os profissionais para atuarem diante desta temática, está simplesmente "amarrando" a atuação deles. 
Qual o problema de uma pessoa escolher viver sem glúten, desde que tenha acompanhamento médico e nutricional? 

Mas, como tudo no Brasil, a educação fica para o último plano, é mais fácil criar um lei e boicotar tudo do que parar para se pensar nela e ver onde é que o problema começa. Se pararmos para pensar, o problema começa exatamente na formação dos profissionais.

Não estou escrevendo aqui e fazendo apologias a receitas fornecidas pelas revistas, porque claro, elas não levam em consideração a singularidade da pessoa, partindo do princípio de que aquela dieta servirá para todos (e eu realmente acho isso um absurdo). Estou defendendo um atendimento particular, no sentido real da palavra. Aquele que atende as necessidades da pessoa, leva em consideração o desejo dela, fazendo um paralelo com aquilo que o profissional tem de conhecimento e julga que será adequado para o paciente. 

Por outro lado, esta medida do CRN pode brecar esta questão citada acima, de que os alimentos estão sendo focados para pessoas que seguem uma dieta por escolha e não por necessidade. Um ponto positivo para nós, celíacos. 

O tema é bastante polêmico e há pesquisas que defendem os dois lados. Eu continuo lendo e pesquisando sobre o tema. Há muitas controvérsias mas também muitas coisas interessantes. Há especialistas que defendem o glúten como indigesto para todas as pessoas mas há os especialistas que defendem o contrário, sendo prejudicial apenas para quem tem a doença ou alguma intolerância.


Para finalizar, enfatizo: nada e nem ningúem melhor do que nós mesmos para dizer o que sentimos e como nos sentimos quando nos alimentamos. Devemos escutar nosso corpo. Ele nos dá sinais quando algo não vai bem. Troquem idéias com seus médicos e/ou nutricionistas. Tanto você quanto o profissional devem falar e escutar.

Polêmicas a parte, o que vocês pensam sobre este assunto?
Eu, particularmente, conheço pessoas que disseram que a vida mudou da água para o vinho quando retiraram o glúten da dieta. 

Fica aqui um tema para refletirmos...

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Dica de hoje

E já que estamos falando desta questão da sensibilidade X doença celíaca, hoje tenho uma dica de restaurante. Infelizmente eu não tive a oportunidade de experimentar. 

Estou falando do Le Manjue Bistrô, comandado pelo chef Renato Caleffi, referência em gastronomia funcional e sustentável. 
O Le Manjue foi pensado para pessoas que têm o desejo de diminuir o consumo do glúten. O Renato, com toda a sua simpatia e paciência, me esclareceu que há risco de contaminação cruzada na cozinha deles, pois são produzidos pães e bolos no mesmo local. Ele completou: "Temos clientes celíacos que nunca tiveram problemas, embora isso seja algo muito individual."

O cardápio é de dar água na boca. 
Aproveitando, quero agradecer a atenção que o Renato e o Bruno tiveram comigo.

Para quem quiser conhecer o Le Manjue Bistrô, basta entrar no site (clique aqui!) ou na página do facebook, aqui!

Até a próxima!


Fonte: Vivendo sem glúten (livro); site do CRN.

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